sábado, outubro 19, 2019

CALÇADA ROMANA DE ALCONGOSTA EM PERIGO

 
 No passado Sábado constatámos infelizmente que as operações de corte das árvores queimadas em curso na zona envolvente da calçada romana de Alcongosta estão a levar a que se faça circulação de maquinaria pesada sobre esta via, contribuindo para acelerar a sua degradação de forma drástica.
Esta situação já foi comunicada à Câmara Municipal do Fundão assim como à Junta de Freguesia de Alcongosta e Agência de Desenvolvimento Gardunha 21 de forma a que sejam tomadas medidas de salvaguarda solicitando ao mesmo tempo para que se avance para a há muito necessária interdição de circulação de veículos motorizados sobre a calçada.
Trata-se de um elemento patrimonial de grande importância da nossa Serra, tanto em termos históricos como simbólicos, já que se trata de uma ponte entre Norte e Sul utilizada há cerca de 2.000 anos. Associados a esta calçada estão outros elementos patrimoniais como as lagariças escavadas na rocha e, recordamos, foi aqui que em 2018 descobrimos um altar romano.

sexta-feira, julho 26, 2019

A LENDA DO GARGANA

De entre todas as lendas que se contam ao redor da Serra da Gardunha, há uma que se destaca pelos seus contornos tenebrosos. Trata-se da lenda do “Gargana” e tem como palco o Convento de Santo António (ou de Nossa Senhora do Seixo) junto ao Fundão.
Reza a história que o Gargana era um serviçal que vivia junto ao convento e que dava guarida a quem viajava pela serra e por ali chegava em busca de abrigo quando os monges já tinham fechado os portões com o cair da noite.
Da sua casa, vigiava atentamente a rua procurando ver ou ouvir os infelizes e tanto lhes abria a porta como, se necessário, caso o cansaço já não lhes permitisse sequer dar mais alguns passos, ele próprio os ia buscar, carregando-os para dentro de casa. Inclusive, se os lobos vinham e perseguição dos viajantes cansados e se faziam ouvir uivando na noite, o Gargana saía de imediato de sua casa soprando numa “buzina” repetidas vezes, fazendo ecoar o seu som pelos vales. Este som e o ladrar dos cães que se manifestavam alarmados eram suficientes para demover as alcateias mais ousadas.
Esta actividade caridosa durava havia já vários anos e merecia os maiores elogios de todos os que o conheciam, especialmente dos monges, que viam no piedoso anfitrião a personificação das melhores virtudes da caridade e altruísmo.
Contudo, a realidade era bem diferente e, uma vez fechada a porta nas suas costas, o destino dos hóspedes estava traçado. O Gargana alimentava-os e dava-lhes cama, esperando em seguida que o cansaço levasse a melhor e que adormecessem. Abeirava-se então deles, com uma mão tapava-lhes a boca e, com a outra, empunhava a faca que trazia consigo, cravando-a no coração das vítimas que partiam num último suspiro de terror. Escondia depois os corpos numa cisterna que tinha na cave e apropriava-se avidamente dos pertences das vítimas, afinal o móbil dos crimes.
No dia seguinte, lá entrava o Gargana em postura de reverência na igreja do convento para assistir à primeira missa e comungar como o bom fiel que todos julgavam ser.
Isto continuou durante muitos anos até que, um dia, o Gargana não apareceu na missa, deixando alarmados os monges. Estes foram à sua procura, encontrando-o morto com expressão de grande sofrimento e rodeado de muitas moedas de ouro e prata sujas de sangue. Em vão os religiosos tentaram apanhar as moedas, mas estas simplesmente se desvaneciam para não serem tocadas. Interpretando o prodígio como um sinal divino da efemeridade das riquezas mundanas e um sinal da humildade em que o seu irmão vivera, decidiram que este deveria ser enterrado no claustro do convento, junto dos mais virtuosos irmãos defuntos. Assim fizeram e aos poucos a vida no convento regressou ao normal.
Ora, numa certa noite tempestuosa de Inverno, o barulho do vento não foi suficiente para abafar o som de três fortes pancadas no portão da cerca do convento. Acordados, os religiosos foram ver quem lhes batia à porta e depararam-se com três anjos, envoltos numa aura de luz intensa, que pediram para ser conduzidos à campa do Gargana. Chegados ali, abriram o túmulo e erguendo o morto bateram-lhe nas costas para o fazer cuspir todas as hóstias que comera em vida.
Com um estrondo que fez estremecer o claustro, o Gargana foi novamente deixado no seu túmulo e os anjos desapareceram, dando outra vez lugar à noite. Terminava assim a história negra deste falso fiel cujo nome “Gargana” significa ladrão na gíria popular de alguns recantos da Cova da Beira.

David Caetano, Jornal do Fundão
03/07/2019 

domingo, fevereiro 24, 2019

Gravuras rupestres descobertas na Serra da Gardunha

 
Um conjunto de rochas com gravuras rupestres foi descoberto na Serra da Gardunha, Fundão, e a primeira análise indica que serão do período entre o Calcolítico e a Idade do Bronze, disse esta quinta-feira à agência Lusa o arqueólogo Martinho Batista, antigo diretor do Parque Arqueológico do Vale do Côa.
Das imagens que visualizei, concluo claramente que são motivos pré-históricos. Uma dessas rochas tem arte rupestre do tipo esquemático simbólico, ou seja, são círculos concêntricos, aquilo que nós chamamos de ‘arte atlântica'”, disse Martinho Batista
António Martinho Batista ainda não esteve no local (prevê fazê-lo em março ou abril), mas as imagens que um habitante do Fundão lhe fez chegar na sequência desta descoberta não lhe suscitam dúvidas quanto ao facto de que as gravuras em causa são “pré-história recente” e que merecem um estudo mais aprofundado. “Merecem ser estudadas, valorizadas e defendidas”, afirmou.
António Martinho Batista acredita que estas gravuras estarão “entre o Calcolítico e a Idade do Bronze, pelo que poderão ter entre três a quatro mil anos”.
O Jornal do Fundão revela na edição desta quinta-feira que as gravuras foram descobertas recentemente por um sapador florestal da Pinus Verde, Francisco Martins, que efetuava trabalhos de desmatação nas proximidades da Casa do Guarda, em Alcongosta, concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco.
A singularidade dos desenhos chamou a atenção de Francisco Martins, que partilhou a descoberta com dois fundanenses que têm interesse nesta área — Diamantino Gonçalves e David Caetano — e que foram ao local e documentaram o achado fotograficamente, tendo pedido depois uma análise ao arqueólogo António Martinho Batista.
Contactado pela Lusa, Diamantino Gonçalves sublinha ainda que este achado é muito importante e que poderá ser apenas a primeira de outras descobertas, uma vez que estas gravuras raramente estão isoladas.

 In Jornal Observador