A marafona é uma boneca feita à mão na aldeia de Monsanto e em Penha Garcia e ainda noutras aldeolas junto à raia, na Beira Baixa.
Serve hoje para que as velhinhas que lá
moram consigam amealhar umas moedas extra no final do mês, vindas de
bolsos turísticos. Mas o seu significado é milenar, e desconcertante.
Há duas crenças locais acerca dos poderes
destas bonecas: uma primeira, que faz delas amuletos protectores contra
tempestades, e uma segunda, enquanto objecto supersticioso para dar boa
fortuna às mulheres no momento de engravidarem.
Por partes.
Falando primeiro do uso da marafona
como pára-raios, podemos ir até às Festas de Santa Cruz, nas quais as
mulheres, acompanhadas destes brinquedos, sobem ao monte santo,
enquanto os abanam. A marafona, quando agitada à subida para o topo da
colina de Monsanto, ganha poderes pouco prováveis, como este de afastar
as trovoadas. Mas além disto, e mantendo-me ainda nesta utilidade de resguardar
atribuída a tal boneca, a marafona é usada em Penha Garcia enquanto
protectora de bebés e crianças. Colocam-se à janela marafonas de tamanho
maior, e em número igual ao número de crianças que vive na casa,
servindo elas assim de anjos da guarda dos mais gaiatos. Antes, era
também frequente colocarem-se junto ao gado, para o proteger do mau
olhado.
E indo agora ao segundo significado,
também se faz dela um amuleto para a fecundidade. Segundo a tradição, a
marafona é colocada debaixo da cama dos casais (especialmente na noite
de casamento), e tendo em conta que é surda (não tem ouvidos), cega (não
tem olhos) e muda (não tem boca), nada pode contar a ninguém. Fica
assim ligada a cultos antigos e de raiz claramente pagã, como uma
transcendente impulsionadora da fertilidade, causa tão comum em
determinados objectos tidos popularmente como poderosos, como acontece, por exemplo, com as pedras parideiras, perto de Arouca.
A ligação delas à aldeia de Monsanto é
tão umbilical que, segundo a lenda, deve-se a elas uma vitória contra um
poderoso inimigo (dependendo da versão, seria mouro ou castelhano) que
sitiava o castelo.
Reza a história que os poucos aldeões que se encontravam dentro de
muralhas puseram marafonas a dançar alegremente, fingindo passá-las por
mulheres de verdade. As tropas invasoras, ao vê-las indiferentes à sua
débil posição, desmoralizaram tanto que abandonaram o cerco.
Quanto à sua anatomia, é, por
dentro, uma cruz em madeira, onde se enrola um pedaço redondo de lã que
forma a cabeça, trajada depois, em pano, com cores e padrões ao gosto de
quem as faz. O facto de ser uma cruz remete-nos novamente para o
carácter sagrado do objecto.
Numa visita a Monsanto, que vale sempre a pena, lembrem-se delas.
In http://www.portugalnummapa.com/marafona/
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